É a parte que se situa entre a cabeça e o resto do corpo. É ela que faz a junção entre o cérebro e os seus executantes, que vêm a ser os braços e as pernas. A partir do plexo cervical que se situa na sua base, todas as vontades e as decisões de ação ou de relação vão ser enviadas em direção ao órgão ou ao membro mais adaptado para a sua realização. Logo, a nuca é um lugar onde os desejos ou as vontades ainda não emergiram, não começaram a aparecer e nem deram início ao gesto físico.
Eles ainda não tiveram ligação com o mundo exterior. Assim sendo, a nuca representa o ponto de passagem do conceitual (cérebro, ideias, conceitos, desejos, vontades, querer etc.) para o real (ação, realização, relação, expressão etc.).
Os males da nuca
As tensões, os sofrimentos ou o bloqueio da nuca exprimem a nossa dificuldade ou a nossa incapacidade para fazer com que desejos, ideias, conceitos, vontades etc. passem para o real. No entanto, ao contrário da tensão dos ombros, que significa globalmente a mesma coisa, no caso da nuca, estamos no estágio em que as coisas não chegaram “à porta” da passagem ao ato. Isso significa que não podemos fazê-las passar para o real, porque achamos que não somos capazes. A incapacitação é de nossa responsabilidade, ao passo que, quando se trata do bloqueio nos ombros, presume-se que ela venha dos outros, do mundo exterior. A irradiação na direção de um dos ombros que pode existir paralelamente nos dará uma indicação a mais – a da simbólica Yin ou Yang – cuja imagem interior nos faz pensar que não somos capazes.
Que eu possa me lembrar, o caso mais clássico e mais simples é o do torcicolo. Essa tensão na nunca tem um efeito físico direto que nos impede, às vezes à custa de muita dor, de virar a cabeça tanto para a direita como para a esquerda. Ora, qual é a significado universal do gesto de virar a cabeça para a direita e para a esquerda? Em todas as culturas do mundo, esse movimento quer dizer “não”.
É o sinal da discordância, da recusa, da não-aceitação em relação ao que acontece ou ao que o outro diz ou faz. O torcicolo nos impede de fazer esse gesto. Ele demonstra a nossa incapacidade para dizer “não” a alguém ou a uma situação. Achamos que não temos o direito, a possibilidade ou a capacidade de fazê-lo.
Esse exemplo me faz pensar em Bernard, executivo de uma grande empresa francesa de distribuição, que assistia a um dos meus seminários de empresa sobre a Dinâmica das Relações. Esse homem sofria de um torcicolo comprometedor havia três dias. Eu lhe perguntei então se ele vivia alguma situação à qual gostaria de dizer “não”, coisa que se recusava a fazer pois achava que não podia ou que não tinha o direito de fazer. Antes de tudo, ele ficou desconcertado. No entanto, refletiu por alguns instantes e depois reconheceu, para o seu próprio espanto, que vivia, na realidade, uma situação profissional desse tipo.
O presidente geral do seu grupo, do qual ele era um dos principais representantes regionais, tinha uma mania que considerava muito importante: a de organizar reuniões de prestígio para os seus executivos, que o Bernard chamava de “longa missa”. Na sua opinião, essas reuniões, que duravam de um a três dias, não acrescentavam grande coisa, a não ser fazer com que ele perdesse tempo enquanto havia muito a fazer in loco.
No entanto, não havia como recusar, dizia, senão, corria o risco de ser “desagradável”, de que a recusa fosse mal “recebida”. Ora, ele acabara de saber, três dias antes do seminário, que uma nova “longa missa” devia acontecer no mês seguinte, período em que ele normalmente estaria nas lojas da província pelas quais era responsável. Ele soube da novidade na segunda à noite e, na terça de manhã, acordou com um torcicolo que ainda o bloqueava na quinta durante o seminário. Ele decidiu então refletir sobre uma maneira de exprimir a sua discordância com a sua hierarquia, ou então, em caso contrário, de aceitar essas “longas missas”.
Podemos ilustrar e fazer um resumo dos grandes eixos da parte “alta” do nosso corpo – nossos braços, nossos ombros e nossa nuca – no esquema que se segue. Ele possibilita uma visualização simples do que se passa e como se passa.
Cada vez que temos tensões na parte superior do nosso corpo, elas são um sinal de que, na nossa relação com a ação (desejo, vontade, impossibilidade, incapacidade, medo etc.) ou com o poder sobre as coisas e sobre os seres, vivemos uma tensão equivalente. Essa tensão está ligada ou à nossa suposta incapacidade (nuca), ou a uma incapacidade vinda do exterior (ombro). Estamos diante de algo que não podemos, não sabemos ou não chegamos a fazer.
Do Livro Diga-me onde dói e eu te direi por quê de Michael Odoul
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