Remédios Naturais e Plantas Medicinais
Grupo desenvolve analgésico com planta
Estudos apresentados durante evento em Goiânia aliam entendimento de processos neurológicos e exploração da biodiversidade
Um novo analgésico capaz de controlar a dor de modo diferente daqueles mais usados e conhecidos, como a morfina, foi descoberto em uma planta comum no sul do Brasil. E o entendimento do complexo processo pelo qual se sente dor está recebendo grande ajuda do estudo do veneno produzido por aranhas e escorpiões.
Esses três exemplos de pesquisa mostrados ontem em um simpósio na 54ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) estão não só aumentando o conhecimento científico sobre a dor e a inflamação, como também indicam o caminho para o aproveitamento da grande biodiversidade do país, segundo os pesquisadores.
A possível nova droga contra a dor foi retirada da planta casca-de-anta, nome científico Drimys brasiliensis, e batizada como drimanial pela equipe de João Batista Calixto, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). A droga foi testada em animais de laboratório e foi verificado que ela interfere no caminho bioquímico ligado ao glutamato, substância capaz de causar dor forte.
"Os laboratórios estão procurando analgésicos que não tenham efeitos colaterais", disse Calixto. Outras substâncias capazes de afetar o glutamato têm efeitos assim, pois o processo envolve uma cascata de reações, com distintas ações no organismo. Já o drimanial, por bloquear apenas uma outra substância "receptora", teria menos efeitos.
"É um produto novo, com uma ação nova", diz ele. Mas o mais interessante da descoberta é o seu papel em ilustrar o aproveitamento da biodiversidade: primeiro os cientistas fizeram trabalhos básicos sobre como se transmite a dor, para depois rastrear a droga que poderia agir no processo.
"A pesquisa básica foi fundamental para se chegar à parte aplicada", diz o pesquisador de Santa Catarina.
Os estudos com aranhas e escorpiões, apesar de serem úteis para o eventual aperfeiçoamento do tratamento às picadas desses aracnídeos, contribuem para o entendimento da inflamação, já que um processo assim se desenvolve depois da picada.
Por exemplo, 90% das vítimas da aranha armadeira (Phoneutria nigriventer) têm dor local intensa. A morte é rara, mas pode acontecer em crianças. Os pesquisadores, ao longo dos anos, foram descobrindo o efeito do veneno no sistema nervoso, por exemplo agindo nos canais de transmissão do impulso nervoso.
Edson Antunes, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e seus colegas descobriram o principal componente desse mecanismo "neurogênico" de ação do veneno, e descreveram sua ação no complexo de reações bioquímicas da dor e inflamação.
Essas pesquisas podem apontar para novas terapias, diz Antunes, inclusive uma para edemas originários de problema neurogênico.
Já o veneno do escorpião amarelo (Tityus serrulatus) tem um efeito diferente, segundo Mauro Martins Teixeira, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Enquanto, por exemplo, o veneno da aranha bloqueia canais de cálcio, o do escorpião vai ativá-los, dando origem a um "efeito cascata" no sistema nervoso que causa o edema inflamatório.
"Tudo nessa área é muito recente", afirma Calixto. Por essa razão, fronteiras entre a pesquisa básica e a aplicada ainda não são muito claras. "Mas a pesquisa básica é fundamental para se chegar à parte aplicada", diz ele.
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