Bardana (Arctium lappa)
Por: Rose Aielo Blanco
A fama da bardana vem de muito tempo: os gregos a utilizavam como medicamento e nos tempos medievais ela era incluída em várias formulações destinadas à cura. Algumas referências sugerem que o seu nome científico "Arctium lappa" deriva do grego "arctos" (= urso) e "lambanô" (= eu tomo), em alusão ao aspecto peludo da planta.
Valorizada como medicinal desde a Antigüidade, a bardana nunca teve essa fama contestada. Todas as partes da planta eram usadas de alguma forma como medicamento: as folhas, por exemplo, eram bem esmagadas e aplicadas em cataplasmas para tratar inúmeras doenças de pele, em razão de sua ação bactericida. O uso atualmente tem respaldo científico: estudos comprovaram as propriedades anti-sépticas da bardana. Também foram bem difundidos seus poderes contra picadas de insetos e aranhas por sua propriedade de acalmar a dor (ação anestésica) e evitar a tumefação do local (ação anti-inflamatória).
A bardana é originária da Europa, mas tudo indica que o Japão foi o primeiro país a cultivá-la para o consumo mais intenso.A planta, pertencente à família das Compostas, também é conhecida popularmente como erva-dos-tinhosos, pegamassa, carrapicho-de-carneiro e carrapicho-grande. A bardana pode crescer de 50 cm a 2 m de altura e produz um caule robusto, com folhas grandes, de coloração verde na página superior e acinzentada na inferior. As flores, de cor rosa-púrpura, surgem agrupadas em inflorescências (corimbos), os frutos (aquênios) são castanho-avermelhados e a raiz é comprida e carnuda. As raízes e sementes possuem sabor adocicado.
No Brasil, a bardana é cultivada com fins comerciais para uso na alimentação, sendo comercializada em feiras-livres e até em supermercados.
A raiz da bardana é utilizada também na homeopatia (Radix bardanae). A tintura da raiz, dinamizada homeopaticamente, costuma ser empregada contra afecções dermatológicas (acne, furúnculo, eczema do couro cabeludo) e nos bloqueios do metabolismo.
Povos orientais consomem a bardana para combater vários problemas. Raízes e sementes são ingeridas para combater cálculos renais, reumatismo e problemas da vesícula. A infusão das folhas também é utilizada com a mesma finalidade. Do ponto de vista nutricional, esta raiz apresenta boas qualidades: fornece proteínas, glicídios, fibras, cálcio, fósforo, ferro, vitamina A, B1, riboflavina, niacina e vitamina C. Assim como todas as raízes, a bardana também é rica fonte de sais minerais.
Curiosidades:
Há quem diga que as propriedades anti-sépticas da bardana ganharam fama, pois tiveram uma comprovação digna da realeza: a planta teria livrado o rei Henrique III de França de uma grave doença de pele.
Riqueza na casca
As potencialidades da raiz da bardana estão concentradas na casca, tanto que a sabedoria popular afirma que ela não deve ser retirada, para que não sejam perdidas suas propriedades. Para usá-la, é preciso remover bem a terra, escovando-a, mas não descascando-a. Durante o cozimento, a coloração escurece, o que é normal, em razão do ácido tânico, uma substância sem sabor e inofensiva ao organismo. Para evitar esse escurecimento, é só deixar a raiz de molho em água com algumas gotas de vinagre ou limão.
E aí vão duas receitas para aproveitar as propriedades desta planta:
Bardana refogada
3 raízes de bardana
1 cebola média
1 dente de alho
sal à gosto
cheiro-verde picado
2 colheres de sobremesa de gergelim torrado
molho de soja ou shoyu à gosto
Lave e escove bem as raízes da bardana. Corte no sentido transversal, em fatias finas e deixe de molho em água com vinagre. Bata a cebola, o alho e um pouco de sal no liquidificador. Refogue num pouco de óleo e adicione a bardana. Tampe a panela e deixe em fogo baixo, colocando um pouco de água, se necessário. Acerte o tempero e acrescente o molho de soja a gosto. Após cerca de 10 minutos, a bardana deve estar cozida. Salpique com o cheiro verde picado e o gergelim. Sirva acompanhando carnes, arroz e feijão, etc.
Carne com bardana
600g de alcatra
1 ½ xícaras (chá) de bardanas descascadas e cortadas em rodelas
2 cenouras pequenas cortadas em rodelas
4 colheres (sopa) de molho de soja ou shoyu
1 colher (sopa) de manteiga sem sal
3 pitadas de sal
1 colher (sobremesa) rasa de mel
1 colher (chá) de suco de limão
Corte a carne em pequenos escalopes bem finos. Reserve. Descasque as bardanas e corte em rodelas finas. Coloque em uma panela com um litro de água e o suco de limão. Cozinhe por cerca de 25 minutos ou até que estejam macias. À parte, cozinhe as cenouras por 15 minutos. Enquanto isso refogue a carne na manteiga (usando fogo alto) por 4 minutos. Abaixe o fogo, adicione o sal e o mel. Desligue o fogo e acrescente a bardana e a cenoura já escorridas. Incorpore o molho de soja ou shoyu e misture bem. Sirva quente, com arroz branco ou integral.
Rose Aielo Blanco é jornalista e editora do site www.jardimdeflores.com.br